quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Biblioteca de Pessoa disponível na Net em Janeiro


Várias iniciativas assinalam os 75 anos que hoje se completam sobre a publicação da 'Mensagem', único livro de poemas em português publicado em vida de Fernando Pessoa, que escolheu simbolicamente o dia 1 de Dezembro.

Em Janeiro vai ser disponibilizada a biblioteca pessoal de Fernando Pessoa no site da casa-museu do escritor. A promessa é de Inês Pedrosa, directora do espaço, e surge depois de já terem sido adiantadas outras datas para a colocação on-line dos livros lidos, manuseados e anotados do autor português mais conhecido internacionalmente.

"Este é um dos meus grandes sonhos", confidencia ao DN Jerónimo Pizarro, colombiano com nacionalidade portuguesa desde Março, especialista em Fernando Pessoa. Mas só acredita quando vir mesmo. Entre Abril de 2008 e Junho de 2009, juntamente com mais uma vintena de investigadores, digitalizou toda a biblioteca pessoal do escritor, tanto a que se encontra na Casa Fernando Pessoa (mais de 1200 volumes) como a que continua na posse da família (cerca de 200 livros).

Este trabalho, realizado gratuitamente, não só reúne os dois núcleos, separados fisicamente, como permite o acesso a qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, a toda a biblioteca pessoal de Fernando Pessoa. "E, quando isso acontecer, os estudiosos do escritor vão sentir a vida muito curta para tanto papel", assegura Jerónimo Pizarro.

Segundo o investigador, "só 50% da obra de Fernando Pessoa é conhecida". E, para dar uma ideia do volume de textos desconhecidos do escritor ainda existentes, afirma: "A coluna de inéditos que há poucas semanas começámos a publicar no jornal i poderia ser mantida durante 15 anos."

Apesar de a obra já estar toda digitalizada e o trabalho ter sido entregue em Junho à Casa Fernando Pessoa, problemas técnicos têm impedido a sua disponibilização na Internet. Inês Pedrosa reconhece os atrasos - "muito contra a minha vontade", afirmou ao DN -, e elogia o cuidadoso trabalho levado a cabo pelo grupo de investigadores e assegura que em Janeiro o site da Casa já terá uma área dedicada à biblioteca pessoal de Fernando Pessoa.

A responsável adiantou ainda que está em fase de estudo o restauro integral da biblioteca do escritor, tarefa que caberá à Fundação Ricardo Espírito Santo.

Uma edição da Mensagem, clonada do dactiloescrito original, é hoje lançada durante a sessão comemorativa que se realiza no anfiteatro da Biblioteca Nacional (BN). O interesse da Guimarães Editores em lançar esta obra chegou ao director da BN "há cerca de dois anos", explicou ao DN Jorge Couto. E, adianta, "é o início de um projecto de parceria entre as duas entidades para outras edições fac-similadas". A tiragem é de 2500 exemplares e estará à venda apenas nas lojas Fnac e nas duas livrarias da Guimarães.

"Em termos científicos, acho que a edição não apresenta novidades. O mais interessante é que aproxima o leitor da palavra tal como Pessoa a colocava no papel", defende Richard Zenith, norte- -americano que há quase duas décadas se dedica à tradução para inglês da obra de Fernando Pessoa. "E não podemos esquecer que o escritor é um pequeno imperador da língua portuguesa que utiliza cada palavra com uma grande precisão. A sua poesia é muito concisa e dramática e cada palavra era escolhida com todo o cuidado", realça.

O original dactiloescrito da Mensagem, uma primeira edição de 1934, e algumas edições críticas do livro vão estar em exposição durante a sessão comemorativa realizada na Biblioteca Nacional. Uma comunicação de Eduar- do Lourenço, que depois participará no debate "Pessoa e o sonho do supra-Camões", juntamente com Manuel Alegre e Vasco Graça Moura, e leituras de poemas da Mensagem, pelo actor Luís Lucas, completam o evento.

Na Casa Fernando Pessoa, na sexta-feira, o debate sobre o escritor vai ter sotaque brasileiro. A conferência "A Mensagem do Tropicalismo" está a cargo de Caetano Veloso e Antonio Cicero. "O país que mais tem sabido amar Fernando Pessoa é o Brasil", defende Inês Pedrosa, aludindo à série que a Globo fez sobre o escritor - "e a RTP não fez nada" - e ao sucesso de vendas de Pessoa no Brasil - "os seus livros de poesia são mais comprados do que os de Vinicius de Moraes".

Fonte: Diário de Notícias
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